seguimos daqui?
- Larissa Priscila De Oliveira
- 5 de jan.
- 1 min de leitura
“Seguimos daqui, Lari?”
Depois de chegarmos num potente ponto de interrogação, foi assim que ela, paciente, decidiu terminar nosso encontro. Na hora, achei graça da apropriação feita por ela da frase que uso todas as semanas para sinalizar o fim da sessão. Observar o lugar por ela ocupado, de quem percebe que chegou em um bom ponto de partida-chegada e decide ficar por ali, sem minha intervenção, também me deixou com o coração quentinho. Dali em diante, naquele dia, não havia mais palavra pra ser dita, apenas o difícil trabalho de lidar com o silêncio e com as repercussões daqueles cinquenta minutos de sessão.
Depois, como sempre, fiquei pensando na força e na delicadeza que as palavras carregam consigo: com o “seguimos daqui”, lançamos um anúncio e uma reafirmação. Sem o compromisso de ser sempre em frente, mas com a certeza de ser um caminho sempre compartilhado e construído pelo/no encontro, seguimos.
Pelo encontro naquela parte que atravessamos sem saber, sem nomear, sem entender. É ali que a relação terapêutica se estabelece e transforma o modo como seguimos. O que se sabe é o que se tem agora. E o que se tem é o que se carrega na palavra, no corpo, nas marcas que o Viver deixa em nós duas.
O “daqui” se torna local de referência para visitar o passado, o futuro e todas essas conformações temporais que estabelecemos como um comum. O “seguimos” reafirma o movimento inerente à existência e ao processo terapêutico.
Seguimos daqui.

Foto: acervo pessoal.
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